UM OVO E UM MURO Sua mais antiga lembrança era esta, antes de nascer, quando ainda era um ovo. Ficava bastante confusa, dizia, equilibrando-se em cima de um muro que dividia o lugar entre os vivos e os mortos. Não sabia muito bem, quando rompesse a casca, para que lado devia saltar; era bom ser um ovo, difícil era equilibrar-se num muro estreito. Quando pensava o futuro, temia que não existisse uma panela de pressão tão grande o suficiente, para cozinhá-la: Temia que a sua barriga, que deveria crescer, não se partisse. Mara Cunha |